Conteúdo sugerido para 3º Ano - Ensino Médio
A elaboração do conceito de indústria cultural foi um
dos principais resultados da chamada Escola de Frankfurt — um instituto de
pesquisas de cunho social inaugurado em 1924. Apesar da herança marxista dos seus membros, seu objetivo era
produzir estudos interdisciplinares, e a teoria crítica que se pretendeu
elaborar esteve influenciada por propostas psicanalíticas e fatores culturais.
Tal expressão foi utilizada
originalmente em Dialética
do esclarecimento (1947), obra de Theodor Adorno e Max Horkheimer, com
colaboração de outros membros. Essa publicação visava esclarecer um fenômeno
característico do capitalismo presente nas sociedades industriais do século
XIX, a saber, a criação de um mercado consumidor de bens culturais.
O que é indústria cultural?
As condições desse fenômeno
estiveram relacionadas com as mudanças
trabalhistas e a introdução de novidades tecnológicas nos meios de
comunicação do final do século XIX. Com a maior parte da
população operária e trabalhadores em geral usufruindo de tempo livre, houve
maior procura por atividades de lazer e entretenimento.
Antes supridos por
atividades escolhidas pelas pessoas dessas classes sociais, os espaços
destinados a elas começaram a contratar artistas e oferecer outros serviços, já formando o que seria qualificado como popular.
As casas de grandes espetáculos e os teatros, nessa época, ainda eram
frequentados somente pela classe de maior poder aquisitivo.
Adorno (à esquerda) e Horkheimer (à direita) criticaram a
massificação das produções culturais na contemporaneidade. [1]
É com a popularização das transmissões de rádio, no
início do século XX, que o caráter ideológico de uma cultura para as massas
evidenciou-se — processo que ocorreu de forma semelhante no cinema, anos mais
tarde.
A modificação do conteúdo
das programações culturais para atender ao público crescente ocasionou uma massificação desse
conteúdo. Essa padronização consistiu, em alguns casos, em uma diminuição da complexidade de obras voltadas
para a cultura superior. Era apenas com a padronização de suas mercadorias que
essa indústria poderia satisfazer
muitos consumidores.
A expressão indústria cultural deveria soar estranha e indicar uma
contradição. A indústria possui características distintas da produção que
poderia ser legitimamente caracterizada como cultural. Enquanto esta palavra
está associada com a criação como expressão de dúvidas, anseios e valores, aquela
relaciona-se com a satisfação de demandas de consumidores.
A indústria cultural alcança
seus objetivos porque os produtos culturais servem a uma demanda formada
ideologicamente. A expectativa e o interesse nesses produtos têm origem em objetivos econômicos de grandes
grupos empresariais e influenciam as pessoas pelos meios de comunicação. Se não
nos tornamos conscientes desse processo, é porque já estamos de tal forma
acostumados que não questionamos nem o conteúdo nem a forma do que nos é
apresentado como cultura.
O entretenimento é a
característica mais perceptível dos produtos culturais planejados pela
indústria cultural. Esse aspecto é, muitas vezes, usado como critério de
avaliação pelas próprias pessoas, quando classificam em bom ou ruim determinado
livro, filme etc. Há um conflito, nesse sentido, com a produção artística
autônoma, que visa, muitas vezes, criticar a cultura vigente em uma sociedade.
“[A] arte não é social apenas
mediante o modo da sua produção, em que se concentra a dialéctica das forças
produtivas e das relações de produção, nem pela origem social do seu conteúdo
temático. Torna-se antes social através da posição antagonista que adopta
perante a sociedade, e só ocupa tal posição enquanto arte autónoma.” |1|
Uma vez que os grandes meios de comunicação influenciam e
orientam padrões estéticos, o que vier a provocar incômodo ou
insatisfação será avaliado como ruim pelas pessoas, podendo inclusive não ser
entendido como arte. Contribui-se, assim, para inibir mudanças no
que é culturalmente aceito em uma sociedade.
O que é cultura de massa?
A classificação de algo como
cultura de massa pretende referir-se ao processo de produção de bens culturais por grandes empresas,
mas possibilita uma interpretação equivocada, a saber, poderia sugerir que essa
oferta fosse uma demanda originada pelas próprias classes populares, o que
seria exatamente o oposto do que os pensadores da Escola de Frankfurt
propuseram.
Andy Warhol foi um grande entusiasta da pop art, vertente artística que
reproduzia temas relativos ao consumo e à cultura popular.
Embora essa expressão tenha
sido usada nos rascunhos de alguns escritos, foi escolhida a expressão
indústria cultural para ser publicada na obra Dialética do esclarecimento.
Como Theodor Adorno expôs em muitos textos, essa nova expressão visa indicar
que aquilo que se apresenta como cultura é
orquestrado para ser consumido e não resulta legitimamente de uma manifestação
criativa. A indústria cultural pode ser entendida, então, como um uso
específico dos meios de comunicação com efeitos ideológicos.
É importante frisar que os
filósofos que implementaram uma teoria
crítica da sociedade não pretenderam idealizar as
produções culturais. Explicitaram, antes, o que estava na base da popularização
dos bens culturais, ou seja, o lucro. Mesmo com muitas novidades nas artes e na
cultura hoje, por exemplo, o sucesso de um filme ainda está atrelado às rendas
que conquista, o que já havia sido criticado por Theodor Adorno há mais de
50 anos. Caso queira aprender mais
Novos estudos sobre a indústria
cultural
Novos estudos continuam a
acompanhar a relação entre meios de comunicação e cultura, indicando seus
aspectos alienantes e seus impactos no consumo. Com o surgimento de novas formas de
comunicação, novos bens culturais são produzidos, o que renova a discussão
acerca da produção da cultura.
Alguns estudiosos apontam jogos em mídia digital e
mesmo atrações turísticas como
as novas facetas da cultura industrializada. O que é mais óbvio nas novas
ofertas são as alterações no conteúdo, uma vez que a sociedade, e
consequentemente o público, sofreu mudanças.
Embora não se deixe de
considerar a influência dos novos meios de comunicação sobre os indivíduos,
muitos pesquisadores alegam que os
indivíduos hoje são mais críticos do que quando
considerados pelos teóricos da Escola de Frankfurt.
Nenhum comentário:
Postar um comentário