O positivismo é uma
corrente filosófica do século XIX que aposta na ordem e na ciência para a
obtenção de progresso social.
O positivismo é uma corrente teórica inspirada no ideal de progresso contínuo
da humanidade. O pensamento positivista postula a existência de uma marcha
contínua e progressiva e que a humanidade tende a progredir constantemente. O
progresso, que é uma constatação histórica, deve ser sempre reforçado, de
acordo com o que Auguste Comte, criador do positivismo, chamou de Ciências Positivas. As
Ciências Positivas teriam a sua mais forte expressão na Sociologia, ciência
da qual Comte é considerado o fundador.
O positivismo também
incorporou, na teoria de Comte, elementos políticos e ganhou, nos trabalhos de John Stuart Mill, um escopo mais ético e moral. Isso acabou
reforçando o molde de uma teoria política positivista, fundada na ordem e no
conhecimento para se alcançar o progresso.
Essa teoria ressoou na política brasileira,
mais especificamente no início do período da Primeira República, pois o marechal Deodoro da Fonseca (primeiro
presidente do Brasil) e outros políticos que participaram do governo tinham
fortes influências positivistas.
HISTÓRIA DO POSITIVISMO E A SOCIOLOGIA DO SÉCULO
XIX
O positivismo foi uma corrente filosófica que
nasceu na França, no século XIX, derivada do pensamento iluminista.
Pode-se dizer que o seu fundador foi o filósofo e também criador da Sociologia, Auguste Comte (1798 –
1857). Outro nome importante para o positivismo é John Stuart Mill (1806 – 1873), que adaptou o pensamento positivista ao utilitarismo moral inglês, que teria
surgido com Jeremy Bentham, jurista, filósofo e professor de Mill. Com a
adaptação ao utilitarismo, o positivismo ganhou um tom mais voltado para a
filosofia moral, delineando os preceitos éticos da teoria de Mill.
Outros
fatores que marcaram o positivismo foram a Revolução Industrial e as crises sociais que
ocorreram em decorrência direta dessa revolução e da explosão demográfica dos grandes
centros urbanos europeus, ocasionada pelo surgimento rápido de muitas
indústrias. Nesse período, a fome e
a desigualdade social alastraram-se pelos centros urbanos, ao mesmo tempo em que os
antigos paradigmas medievais e o Antigo Regime eram, progressivamente,
superados.
Assustados
por uma sociedade nova e complexa, os intelectuais tiveram dificuldade para
entender esse novo modelo social, completamente
diferente de tudo o que tinha acontecido até então. A teoria positivista e
a Sociologia foram
as propostas de Comte para se entender a nova organização que tanto assustou os
pensadores e modificou a vida das pessoas.
Auguste
Comte apostava no progresso moral e científico da
sociedade por meio da ordem social e do desenvolvimento das ciências. O
pensador estabeleceu uma espécie de hierarquia
das sete grandes ciências: Matemática, Astronomia, Física,
Química, Moral, Biologia e Sociologia, sendo essas duas últimas superiores.
O filósofo
acreditava que a Sociologia deveria basear-se nas ciências da natureza, sobretudo
na Biologia e na Física, que tentam descobrir e decodificar as leis naturais.
O sociólogo deveria
fazer um trabalho análogo na sociedade: descobrir e decodificar as leis sociais.
O sociólogo deveria ser um cientista observador, apoiando-se no conteúdo de sua
análise e nos fatos.
O estágio
em que a humanidade encontrava-se era o de maior evolução, segundo a Lei dos Três Estados, de Comte,
que estabelece três classificações distintas: o estado teológico (primeiro
e menos desenvolvido), o estado metafísico (segundo
e intermediário) e o estado positivo (último e
melhor). O estado positivo ocorreu, segundo Comte, a partir do momento em que a
humanidade passou a priorizar a ciência como fonte do saber confiável.
O método
positivista também originou uma teoria historiográfica, inspirada
nas ideias do conde de Saint Simon (1760-1825),
filósofo francês para quem a humanidade progrediria continuamente, indo sempre
adiante e nunca regredindo. Segundo a historiografia positivista, o progresso histórico deveria ser constantemente aferido, tomando
por base apenas os fatos que são constantemente registrados.
No Brasil, o
positivismo influenciou fortemente os militares e políticos ligados ao marechal Manuel Deodoro da Fonseca, que em
1889 depôs o imperador Dom
Pedro II e tornou-se o primeiro presidente do Brasil, implantando uma
tentativa de se fazer uma política baseada no positivismo, com o cultivo e a imposição
da ordem social para se chegar ao progresso.
Ainda no
século XIX e no século XX, o termo positivismo ganhou outros significados,
tendo surgido o positivismo
jurídico, no âmbito do direito, e o positivismo lógico, entre
os filósofos da linguagem, que seria uma crença de que a análise lógica da
linguagem seria o caminho para solucionar todos os problemas filosóficos.
CARACTERÍSTICAS DO POSITIVISMO
→ Doutrina filosófica baseada em teorias e leis
A aspiração mais
remota do positivismo encontra-se no movimento iluminista, fortemente admirado por Comte. Apoiador da Revolução
Francesa, Auguste Comte era favorável ao pensamento republicano, mas
acreditava que o caos e a anarquia, predominantes em alguns períodos da
revolução e pós-revolução, eram empecilhos para a marcha acelerada do progresso.
→ Doutrina sociológica
Antes de
tudo, o positivismo era uma doutrina sociológica que se baseava na Lei dos Três
Estados. A Ciência Social estaria no
último e mais avançado estágio de desenvolvimento da humanidade, acompanhada da
Biologia. Isso conferiu ao positivismo o estatuto de doutrina fortemente ancorada
no pensamento científico.
→ Doutrina
política
A ordem, o rigor e o empenho pela
organização são características fundamentais para a doutrina positivista. Daí
deriva o lema estampado na bandeira brasileira, desenhada durante o início
da era republicana no Brasil.
→ Aposta nas ciências e na industrialização
O pensamento positivista
garante que o progresso da humanidade, além de intimamente ligado às ciências
positivas, está também relacionado com o impulsionamento da industrialização e
da tecnologia.
→ Religião positiva
Com a
superação do período teológico e das religiões baseadas nos mitos e na
existência de um mundo sobrenatural, Comte afirmou a necessidade de uma nova espécie de religião,
baseada não em algo acima da natureza, mas na própria natureza e na capacidade
humana de desvendar os mistérios dessa natureza por meio da ciência. Grosso
modo, podemos dizer que, na religião positiva, a figura de Deus é substituída pela
ciência.
Positivismo no Brasil - “Ordem e Progresso”
“Ordem e Progresso” são influências do pensamento positivista.
O lema de nossa bandeira é
positivista, pois a Primeira
República brasileira (1889-1930) foi um período político com forte
inspiração na teoria formulada por Auguste Comte. Tanto o primeiro presidente,
marechal Deodoro da Fonseca, quanto parte do Parlamento, eram republicanos. O
pensamento republicano nascido na França era baseado na liberdade individual e na responsabilidade moral, fruto
daquela liberdade. A liberdade individual e, principalmente, a responsabilidade
moral são preceitos fundamentais do positivismo, pois são valiosos pilares para
o progresso.
Apesar da
forte inspiração no início da república, o positivismo no Brasil não durou, e o lema
estampado em nossa bandeira não vingou. A política brasileira, que passou por
sucessivos atentados contra a democracia e reprimiu a liberdade
dos cidadãos, perdeu, antes mesmo do fim da Primeira República (que se tornou
um regime coronelista mantido pelo voto de cabresto), os ideais positivistas tão
caros para os republicanos franceses.
Moeda com retrato do primeiro presidente do Brasil, o marechal Deodoro da Fonseca.
Resumo
·
O positivismo surgiu com Auguste Comte, no século
XIX;
·
Marcou o início da Sociologia;
·
Era uma teoria política, moral e filosófica;
·
Baseava-se na ciência e na ordem social;
·
Disciplina, rigor e ordem eram necessários para o
crescimento moral e social;
·
Inspirou a Proclamação da República brasileira.
*Credito da
imagem: Nadiia_foto / Shutterstock
Por Francisco Porfírio
Professor de Sociologia
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